No Brasil há uma cultura de depender do 13o salário. É um ciclo que se repete a vários anos, que existe antes mesmo de você, mas que, sem você perceber, tem uma forte influência no planejamento financeiro da sua família. Até pessoas que não recebem 13o são influenciadas pelo 13o salário nos seus negócios e na sua vida. Qual é o aspecto ruim do 13o salário? Porque ele é tão prejudicial para as famílias?
Muitas famílias se endividam durante o ano e vêem o 13o salário como um fôlego para colocar as contas em dia. Ou também, essas famílias não consumiram ao longo do ano, e esperam o valor do 13o para comprar alguns desejos, presentes ou coisas que necessitam em casa. Vamos entender melhor isso.
Ciclo do 13o
O 13o foi criado pelo governo, na consolidação das leis do trabalho, na década de 60, para ajudar ao trabalhador, na média, incapaz de se organizar financeiramente. A idéia foi tirar um pouquinho de cada um dos 12 salários do ano e criar um 13o salário, para o trabalhador pagar as contas de início de ano, como IPTU, IPVA, matrícula da escola, material escolar, anuidades para professionais liberais, etc. Mas o trabalhador ao invés de guardar o 13o para pagar as contas de início de ano, usa esse dinheiro para outros objetivos e se vê com o orçamento apertado já em janeiro.
As famílias usam todo o dinheiro do 13o em dezembro e ainda parcelam algumas compras e chegam em janeiro sem ter dinheiro suficiente para quitar as contas de início de ano. E então parcelam o IPTU, o IPVA, etc. Ou seja, já começam o ano com o orçamento todo comprometido e sem espaço para lidar com imprevistos. E os imprevistos vão acontecer, pode ter certeza.
Chega o Carnaval, há um gasto extra para lazer, e a família começa a se endividar, e daí vem Páscoa, dia das mães, férias de julho, dia dos pais, dia das crianças, e outros eventos que geram gastos extras que vão aumentando o endividamento, até chegar o Natal. Sempre há um evento que não foi contado no planejamento e que resultou na falta de dinheiro, endividamento e consequente pagamento de juros. E o resultado é que ao invés de o 13o salário ajudar, ele faz com que o trabalhador acumule dívidas, e fique esperando o 13o para regularizar seu orçamento.
Aí chega o 13o no fim do ano e ele é usado para quitar dívidas acumuladas e extravasar o consumo reprimido comprando presentes, ceia farta, férias incríveis, etc. E esse consumo é feito justamente na época mais cara, já que o comércio espera o pico de venda em consequência do maior volume de dinheiro no mercado e também conta com essas vendas para cobrir os custos extras gerados para atender a demanda concentrada. E muitos consumidores ainda parcelam as compras e criam novas dívidas para o ano seguinte, criando uma bola de neve. As famílias não percebem isso e entram em um ciclo eterno de espera do 13o do ano seguinte.
Custo Brasil
A existência do 13o salário, faz com que exista uma concentração de consumo no Brasil durante os meses de novembro, dezembro e janeiro. Um perigoso ciclo é gerado e compõe o custo Brasil. O que é isso de custo Brasil?
Um dos componentes do custo Brasil, é esse custo derivado da estrutura montada para atender o grande volume de dinheiro injetado na economia no fim de ano por causa do 13o. Essa estrutura afeta o tamanhos das lojas e a indústria, que ficam com capacidade ociosa a maior parte do ano, a espera do pico de demanda de fim de ano. Contratações temporárias de fim de ano aumentam o custo de pessoal sazonal. Sistema de entregas temporárias geram maior custo logístico. Aluguel de espaços para formação de estoques para o Natal aumentam o custo de armazenagem.
A economia brasileira se molda a partir da concentração de renda dos brasileiros no fim do ano. Contratações temporárias, logística temporária, produção temporária, grande parte da economia do país é construída baseada na existência do 13o salário. E a indisciplina dos consumidores brasileiros contribui para esse ciclo custoso para as famílias e para o país.
Se o 13o fosse eliminado e redistribuído no salário dos outros 12 meses do ano e as famílias consumissem mais regularmente durante o ano esse custo Brasil poderia ser reduzido. Haveria um melhor planejamento e melhor aproveitamento da capacidade das empresas, diluindo e diminuindo os custos de produção e de lojistas ao longo do ano, fazendo com que os produtos custem mais barato.
Quebrando o Ciclo do 13o
Se você conseguir quebrar esse ciclo apenas uma vez, você irá entrar em uma nova fase da sua vida. Como quebrar esse ciclo do 13o?
A idéia para quebrar o ciclo é se sacrificar uma vez, uma única vez no fim do ano. Ao invés de ter um Natal e férias de verão fartas, você irá ter, uma vez na vida, um Natal e férias mais enxutos. Ao invés de comprar presentes, crie presentes. Ao invés de ceia farta, com coisas caras, faça uma ceia mais simples. Ao invés de férias com gastos de hotel e transporte, passe as férias na sua cidade, aproveite para ir em eventos grátis, parques, praças, e investir tempo para conhecer o lugar que você mora. Fazendo tudo isso, vai sobrar dinheiro em janeiro para pagar as contas de início de ano. Sem parcelar compras de fim de ano, ou o IPTU, IPVA e matrículas, você terá um orçamento com uma sobrinha durante os meses seguintes, e com maior flexibilidade para lidar com imprevistos.
Você vai ver que, se quebrar esse ciclo uma vez, no Natal seguinte você certamente se verá sem dívidas acumuladas durante o ano e sem pagar juros, e ainda com uma sobra já existente no orçamento para aproveitar o Natal. Lembre-se, quebrando esse ciclo uma vez, sua vida irá mudar e ficará mais rica. Agora, se você se encontra em uma situação com dívidas maiores do que o valor do seu décimo terceiro, ou com endividamento crescente gerado mês a mês, aí a conversa se alonga um pouco, para um próximo post.
Fique atento: o 13o não está lá para você esbanjar no fim de ano, mas para você se planejar para o início do ano.
Fonte: Gustavo Cerbasi, Quebrando o Ciclo do 13o, curso Equilíbrio Financeiro

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